Este é o significado da ressurreição de Lázaro

A ressurreição do coração

As histórias do Evangelho não existem apenas para serem lidas, mas também para serem vividas. A história de Lázaro foi escrita para nos dizer isto: há uma ressurreição do corpo e uma ressurreição do coração; se a ressurreição do corpo vai acontecer "no último dia", a do coração acontece, ou pode acontecer, todos os dias.

Este é o significado da ressurreição de Lázaro, que a liturgia quis sublinhar com a escolha da primeira leitura de Ezequiel sobre os ossos secos. O profeta tem uma visão: contempla um imenso prado de ossos secos e compreende que eles representam o moral do povo, que está abatido. As pessoas estão dizendo: "Nossa esperança acabou, tudo acabou para nós." A eles é dirigida a promessa de Deus: “Eis que abro as vossas sepulturas; Eu farei você sair de suas sepulturas... Eu colocarei meu espírito em você e você viverá». Neste caso, também não se trata da ressurreição final dos corpos, mas da ressurreição atual dos corações à esperança. Esses cadáveres, diz-se, reviveram, levantaram-se e formaram "um enorme, imenso exército".

De tudo isso deduzimos algo que sabemos por experiência: que é possível estar morto... antes mesmo de morrer, enquanto ainda estamos nesta vida. E não estou falando apenas da morte da alma por causa do pecado; Falo também daquele estado de total ausência de energia, de esperança, de vontade de lutar e de viver que não pode ter nome mais apropriado que este: morte do coração.

A todos aqueles que pelas mais diversas razões (falha no casamento, traição do cônjuge, perda ou doença de um filho, ruína económica, crise depressiva, incapacidade de sair do alcoolismo, drogas) se encontram nesta situação, a história de Lázaro merece venha como um repique de sinos na manhã de Páscoa.

Quem pode nos dar esta ressurreição do coração? Para certos males, bem sabemos que não há remédio que valha a pena. Palavras de encorajamento saem do chão que encontram. Também na casa de Marta e Maria estavam "judeus que vieram consolá-los", mas a presença deles não mudou nada. É preciso “mandar chamar Jesus”, como fizeram as irmãs de Lázaro. Invoque-o, como fazem as pessoas enterradas por uma avalanche ou sob os escombros de um terremoto, que chamam a atenção dos socorristas com seus gemidos.

Muitas vezes as pessoas nessa situação não conseguem fazer nada, nem mesmo orar. Eles são como Lázaro na sepultura. Eles precisam que os outros façam algo por eles. Uma vez nos lábios de Jesus encontramos este mandamento dirigido aos seus discípulos: «Curai os enfermos, ressuscitai os mortos» (Mt 10,8). O que Jesus quis dizer? Que devemos ressuscitar fisicamente os mortos? Se assim for, na história podem-se contar nos dedos de uma mão os santos que puseram em prática o mandamento de Jesus. Não; Jesus referia-se, também e sobretudo, aos mortos de coração, aos mortos espirituais. Falando do filho pródigo, o pai diz: "Ele estava morto e reviveu" (Lc 15,32). E certamente não era a morte física, se ele tivesse voltado para casa.

Aquele mandato: "Ressuscitar os mortos" é, portanto, dirigido a todos os discípulos de Cristo. Também nós! Entre as obras de misericórdia que aprendemos quando crianças, há uma que diz: “enterrem os mortos”; agora sabemos que existe também o "ressuscitar os mortos".